FADE IN

Ontem vi um fime e me identifiquei muito com a protagonista. É claro que é legal quando isso acontece: me sinto menos estranha, menos só.

Vem junto um sentimento de despeito. O sofrimento dela é propositado, virou poesia. O meu não. O meu choro é no silêncio. E também não acaba num "fade out".

Minhas dificuldades são só difíceis, não bonitas. E com suas consequências eu tenho que lidar, de verdade e sem aplausos.

Quem torce por mim? Quem se identifica com minha personagem e depois escreve um texto?

Minha vida sem música, sem cortes, sem narração.

TUDO

O querer é semente para infelicidade. Quem não quer nada, não sofre o não conseguir. Parece vazio, mas talvez isso seja causado pela minha condição de ser alguém que quer. Talvez não querer nada seja a verdadeira paz.
Eu, no outro extremo, quero tudo. Quero ver tudo, saber tudo e fazer tudo. O que mais faço é decidir entre coisas que eu gostaria muito de fazer, mas tenho que escolher uma.
Agora mesmo, decidi entre quatro coisas que podia e gostaria muito de estar fazendo. Desta vez, escolhi o blog.
Escolher é estressante, não é bom. Gostaria de não precisar escolher, de poder fazer tudo. Tudo ao mesmo tempo, ou ter tempo pra tudo uma coisa de cada vez, tanto faz.
Esse é só mais um querer...

01/01

Minha cunhada tem em casa uma daquelas flores que só se abrem uma vez, à meia-noite, e depois morrem. Pensei que elas só existissem nos filmes. Pra completar a cena cinematográfica ela resolveu se abrir na passagem de ano. Linda, e muito cheirosa, parecia estar espezinhando os homens e suas promessas de ano novo. A planta estava, entre fogos de artifício e perus, realmente oferecendo a renovação.
Não fiz promessas ou projeções de renovação este ano. Nada pedi a Iemanjá, apenas agradeci. Felizmente havia muito a agradecer: a vida, a despeito de todas as minhas investidas no sentido oposto, me ofereceu a chance de uma renovação e pretendo aproveitá-la. As mudanças devem ser naturalmente impulsionadas, como a da flor.