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domingo, março 19


Depois de alguns dias de loucura, trabalho, estress, curso e mais stress, que me mantiveram lonje da internet, volto e tenho uma surpresa ótima! Ganhei um presente, tão especial... Fico orgulhosa de ter como amiga/família uma pessoa tão talentosa. Sim, estou babando ovo mesmo, não posso evitar. E daí?
A Gisele viu a minha alma, e fez um desenho lindo. Nunca pensei que fosse tão transparente e a exposição não me incomoda, tão lindo o desenho.
O que estava mesmo me incomodando era ele estar jogado num canto que não lhe fazia jus. o mínimo que posso fazer é colocá-lo aqui. Aí está, portanto.


PARA ANNA.

Boneca de cacos de vidro,
Vítreos azuis e ausentes olhos que buscam
espelhos, respostas, remédios
cinema, flash n’ crash, e se perdem
em lágrimas, solidões e lacunas
realidade, escuridão e vácuo.

Refaço-te nesse momento,
Por ordem e capricho teu,
“voluntarioso” e urgente capricho teu...

Refaço-te com tuas próprias canetas,
Cores, formas e lógica
Cachos, porcelana e seda,
Pólvora, farpas e ácido.

Boneca triste,
Sem caixa, sem laço, nem loja
Mas em vitrine permanente,
Condenada a exposição gratuita e forçosa
Aos curiosos olhos turísticos de quem amas e odeias

Serás sempre assim,
Boneca, brinquedo, roleta russa, escrava da tua mente,
Engenho fascinante e infernal
onde passarás a eternidade tentando refazer-te

E eu, menos tola,
só o tentei em um verso,
Os outros, são tua figura
que não ouso retocar...

Ghiza

domingo, março 12

O TEXTO E O CONTEXTO

O TEXTO

PESSOAS REAIS, PROBLEMAS REAIS

A fraqueza maior é não querer apresentar-se fraca. Alguém reescreva minha personagem. Isto é uma ordem, uma exigência!
Fraca, talvez.. mas voluntariosa como nunca.
E adianta? Pessoas não são escritas. Tão verdadeiro que chega a ser curioso ver posto em palavras.


O CONTEXTO

Talvez tenha orquestrado uma cena de cinema em minha própria vida. Essa fui eu que fiz, estou dirigindo.
Neste momento, estou sentada em um bar, em frente à Lagoa, talvez um pouco bêbada, escrevendo. Casais se abraçam nas mesas ao redor. Tive que responder, por três vezes, em três situações: "Sim, estou sozinha". Entrei no bar por causa da caneta. Sim, esta.
Algo me perturbou profundamente hoje, me fez chorar, como tantas vezes. Desta, não fui chorar no quarto. Pensei "w.t.h., funciona nos filmes", dei satisfações: "Vou dar uma volta". Liguei o carro, ainda meio sem saber pra onde ia.
Uma imagem me veio a mente: um banquinho, daqueles de praça, que fica em frente à Lagoa. A experiência imaginada me agradou. Podia me encostar no banco, com os pés sobre ele, pernas flexionadas.. choraria ali, assim, de frente pra Lagoa. Muito melhor que o quarto.
No caminho, parei num posto, comprei alguma coisa pra beber. Tinha que fazer a coisa inteira, afinal.
Cheguei, meio sem jeito ainda, ainda me obrigando a fazer aquilo. Tinha mais gente perto daquele banco. Procurei outro igual, não achei. Parei perto de uma daquelas mesinhas de jogo, quadradas com quatro banquinhos.
Estava de frente pra Lagoa e não estava satisfeita. Não tinha encosto no banquinho. Levantei-me e caminhei até o banco, o meu, o que eu queria, como eu tinha imaginado. Não podia escolher como me sentir, mas certamente podia sentar onde bem quisesse! Começava a me sentir mais à vontade.
O restaurante do outro lado da rua tocava "Codinome Beija-flor". Cantarolei baixinho. Sentia-me cada vez melhor. Vieram-me à mente as palavras. Elas vêm, têm vida própria. Assim veio o texto lá do começo, ainda sem forma.
Vou, naturalmente, pegar minha caneta, que está na minha bolsa, encaixada na espiral da minha agenda. Minha caneta preta 0.8 na espiral da minha agenda verde-limão. Ela tem um "06" vazado na capa, deixando aparecer o rosa-choque do papel cartão ao fundo. Tem um 06 vazado na capa e ficou em casa. Saí de casa meio correndo, sem a agenda. Sem a caneta.
Será que essas pessoas aqui do lado, falando sobre faraós ou algo assim, têm uma caneta? Um lápis? Carvão? Eu quero uma caneta. Caneta.
Talvez não precise... Tentei fazer o texto e gravá-lo na cabeça, pra escrever depois. Não me satisfez. Caneta.
No meu carro deve haver uma, claro... Tantas porcarias jogadas naquele porta-luvas, alguma delas deve ser uma caneta. Iria até lá? Está tão confortável o banco, exatamente como tinha pensado, costas apoiadas, queixo no joelho... Caneta.
Tinha uma coisa no caminho até o carro, que parecia uma banca de jornal. Era um pega-turista (cunhei o termo agora) e não vendia caneta.
No carro, nenhuma caneta também. Foi quando vi o bar. Já tinha estado lá uma vez. O bar estava meio vazio. Podia me sentar lá, tomar qualquer coisa e pedir emprestada uma caneta. Caneta. O caderno eu tenho. Caneta.
E foi assim que entrei no bar querendo a caneta. Esta. Não tem Bohemia, mas tem caneta. Sim, esta.

O CONTEXTO, PARTE 2

Ainda queria voltar para o banco e escrever lá, apesar de estar gostando da cena aqui. Será que alguém aqui no bar vai vir falar comigo, como nos filmes? Não... Se vier, não será um Jonh-Cusac-idealista-charmoso-sensível que me acha o máximo.
Não é meu tipo de filme, mesmo. No meu, eu peço um café (já pedi) porque não posso dirigir assim (o carro).
No meu filme, eu peço a conta, que tem que ser menos que quinze reais porque o bar não aceita cartão, fecho o caderno com a caneta dentro, me faço de desentendida. Plano B: eu peço a caneta pra ela. É só uma caneta Bic sem a tampa, nada tão importante, não pra ela.
Conseguirei eu levar a caneta? Tendo conseguido, terei ainda vontade de ir até o banco? Em não tendo (vontade), terei escolha, tendo em vista que preciso esperar o café se manifestar antes de dirigir? Estando no banco, com a caneta, terei ainda o que escrever?
Cada coisa a seu tempo... Nem o meu café chegou ainda.

O CONTEXTO, PARTE FINAL

O café chegou, coado. Não expresso, coado. Brahma, um quibe, café coado e caneta: bom negócio.
A conta veio R$ 6,50 que é menos que quinze. Sucesso. Ela parecia pouco ligar, não prestou atenção à caneta. Mesmo assim, eu pedi.
Gostaria de poder desligar a ética obsessiva de vez em quando, arrisquei a caneta. Esta.
A garçonete era boazinha. Estou no banco agora, de frente pra Lagoa, e não estou chorando. Sucesso.

O CONTEXTO, P.S.

Ao chegar em casa, constatei, sem muita surpresa, que a capa da agenda é, na verdade, roxa.

terça-feira, março 7

MACHADO
De vez em quando tenho uns pensamentos mórbidos, não consigo evitá-los. Por exemplo, eu sempre penso que se fosse cometer suicídio, seria me atirando de um lugar bem alto. Pense nessas pessoas que se matam (ou tentam) tomando comprimidos: coisa mais sem graça.... Não tem sangue, não tem escândalo. Nesse sentido, um tiro pode ser tão eficiente quanto, mas não tem a emoção da queda.
E se eu fose matar outra pessoa, então? Machado, não tenho dúvidas! Armas de fogo não estão com nada, elas fazem todo o trabalho. Objetos pesados desses que estraçalhariam partes do corpo (como tacos ou pedaços de pau, ferro..) são muito deselegantes. Já entre os objetos cortantes, o machado é o meu preferido, sem dúvida. Facas são muito ortodoxas pro meu gosto. Tesouras são legais também.. têm seu charme, mas o machado tem um encanto especial. Porque, óbvio, como quase tudo que eu faço na vida, se eu fosse matar alguém seria um ato apaixonado, não seria nada assim, com fins práticos, o que parece muito cruel. Assim, sempre penso no machado como uma maneira muito eficiente de extravasar o ódio.
Taí, decidido: a próxima vez que alguém me perguntar qual a minha maneira de escolha para me expressar, eu não vou dizer carvão, lápis de cor, nem acrílica, nem pastel seco. Direi, orgulhosa: machado.